"De muitas formas, teria sido um final mais puro matá-lo. Com certeza, eu sabia disso o tempo todo. Sentia que a mensagem embutida no livro era de que o amor é a mais poderosa força neste mundo. Meu modelo para Harry era de veteranos de guerra, que viram horrores e que foram ordenados a voltar para casa para reconstruir, e ir de volta à vida comum e cuidar da família, ser um pai – principalmente ser um pai – é uma tarefa difícil, em momentos problemáticos. Eu senti que seria uma traição ao meu personagem se eu fizesse outra coisa além de mostrá-lo fazendo isso. E eu acho que é uma coisa completamente heroica de se fazer, ir para casa depois daquilo, não para se tornar um mercenário, não para viver para sempre congelado num tempo de emoção e perigo, mas para ser forte o suficiente, mental e fisicamente, para retornar da guerra e cuidar de uma nova geração, com valores que, você espera, não conduzirão a uma nova guerra. Isso é grandioso. 

Claro que você pode dizer que, de uma certa forma, como sempre na vida, este é um eterno paradoxo. O que é muito valioso pode ser facilmente visto como ligeiramente estúpido, mas Deus sabe que, sem aquelas pessoas que estavam preparadas para voltar para casa e cuidar da família e reconstruir, ajudar a reconstruir (…) reconstruir é muito mais difícil do que destruir. Então, eu senti que seria moralmente quase que uma falha matá-lo. Queria mostrar um homem que teve a coragem de regressar e sujar as mãos para tentar reconstruir. Eu gostava daquela ideia. E, mais uma vez, isso fez com que muitas pessoas ficassem aborrecidas, mas Deus sabe que naquele momento eu já estava acostumada a esse tipo de coisa."

J.K. Rowling